Como neurologista especializado no tratamento da esclerose múltipla (EM), frequentemente sou questionado sobre a viabilidade e segurança da terapia de reposição hormonal (TRH) em pacientes com essa condição. A TRH pode ser uma ferramenta valiosa para aliviar os sintomas da menopausa, mas é essencial considerar seus impactos específicos na EM.
O Que é a Terapia de Reposição Hormonal?
A TRH envolve a administração de hormônios como estradiol, progesterona e, em alguns casos, testosterona, para compensar a queda natural desses hormônios durante a menopausa. Cada um desses hormônios desempenha um papel distinto no corpo e pode influenciar a progressão da EM de maneiras diferentes.
Estradiol
O estradiol é um estrogênio que ajuda a aliviar sintomas vasomotores, como ondas de calor, e pode ter benefícios adicionais para a saúde óssea e cardiovascular. Estudos sugerem que o estradiol possui efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, o que pode ser benéfico para pacientes com EM. No entanto, é crucial monitorar o uso de estradiol devido ao risco aumentado de tromboembolismo venoso, acidente vascular cerebral e câncer de mama, especialmente com o uso prolongado.
Progesterona
A progesterona, particularmente em sua forma micronizada, é usada para proteger o endométrio em mulheres que ainda possuem útero e estão recebendo estrógeno. A progesterona também pode ter efeitos benéficos na EM, incluindo a promoção da remielinização e a redução da inflamação.
Testosterona
Embora menos comum em mulheres, a testosterona pode ser adicionada à TRH para tratar sintomas como diminuição da libido e fadiga. A testosterona também pode ter efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, embora os dados em mulheres com EM sejam mais limitados.
Impacto da TRH na Esclerose Múltipla
A relação entre TRH e EM é complexa e ainda está sendo investigada. No entanto, algumas evidências indicam que os hormônios sexuais podem modular a progressão da EM. O estradiol e a progesterona, por exemplo, têm mostrado potencial para reduzir a atividade da doença e a taxa de recaídas em algumas pacientes.
Considerações de Segurança
A segurança da TRH em pacientes com EM deve ser avaliada caso a caso, levando em conta o histórico de saúde da paciente, incluindo fatores de risco para doenças cardiovasculares, tromboembolismo e câncer. É essencial um monitoramento contínuo para ajustar as doses conforme necessário e garantir que os benefícios da TRH superem os riscos.
Conclusão
A TRH pode oferecer benefícios significativos para pacientes com EM, especialmente no alívio de sintomas menopáusicos e potencial neuroproteção. No entanto, é vital um acompanhamento médico rigoroso para balancear os benefícios com os riscos potenciais. Recomendo que pacientes com EM consultem seus neurologistas e ginecologistas para discutir as opções de tratamento mais adequadas.
Para aqueles interessados em explorar mais sobre o impacto da TRH na EM, recomendo a leitura das seguintes fontes:
- Gold, S. M., & Voskuhl, R. R. (2009) Estrogen treatment in multiple sclerosis. Journal of the Neurological Sciences, 286(1-2), 99-103.
- Guennoun, R et al. (2015) Progesterone and allopregnanolone in the central nervous system: response to injury and implication for neuroprotection. The Journal of steroid biochemistry and molecular biology vol. 146: 48-61.
- Collongues, Nicolas et al. (2018) Testosterone and estrogen in multiple sclerosis: from pathophysiology to therapeutics. Expert review of neurotherapeutics vol. 18,6: 515-522.
- Manson, JoAnn E et al. (2013) Menopausal hormone therapy and health outcomes during the intervention and extended poststopping phases of the Women’s Health Initiative randomized trials. JAMA vol. 310,13: 1353-68.
- Spence, Rory D, and Rhonda R Voskuhl. (2012) Neuroprotective effects of estrogens and androgens in CNS inflammation and neurodegeneration. Frontiers in neuroendocrinology vol. 33,1: 105-15. doi:10.1016/j.yfrne.2011.12.001.
Para mais informações e atualizações, continue acompanhando o blog. Juntos, podemos encontrar as melhores abordagens para tratar a esclerose múltipla e melhorar a qualidade de vida.