Recentemente, a atualização da “Lancet Commission on Dementia” trouxe à tona importantes revisões sistemáticas e meta-análises. Esses estudos demonstraram como a reserva cognitiva e física se desenvolve ao longo da vida e como a redução do dano vascular – por exemplo, diminuindo o tabagismo e tratando a hipertensão arterial – pode contribuir para uma redução na incidência de demência relacionada à idade.
Fatores de Risco Modificáveis para Demência
Evidências crescentes e mais robustas mostram que controlar muitos fatores de risco para demência pode reduzir significativamente o risco de desenvolver essa condição. Entre os principais fatores de risco estão:
- Menor nível educacional
- Perda auditiva
- Hipertensão arterial
- Tabagismo
- Obesidade
- Depressão
- Sedentarismo
- Diabetes
- Consumo excessivo de álcool
- Lesão cerebral traumática (TCE)
- Poluição do ar
- Isolamento social
- Perda de visão não tratada
- Níveis elevados de LDL-C
As frações atribuíveis à população foram utilizadas para gerar uma nova perspectiva abrangente de prevenção da demência ao longo da vida, incorporando esses 14 fatores de risco. O potencial de prevenção é alto e, no geral, quase metade das demências poderia teoricamente ser evitada eliminando esses fatores de risco.
Impacto das Novas Evidências
Essas descobertas são encorajadoras. Embora a mudança seja difícil e algumas associações possam ser apenas parcialmente causais, a nova síntese de evidências mostra como é possível reduzir o risco de demência e como intervenções políticas podem melhorar a prevenção da demência.
Diferenças Regionais e Socioeconômicas
Observou-se um potencial de redução do risco em países de baixa e média renda e entre grupos socioeconômicos minoritários. Novas evidências mostram que muitas vezes há uma carga maior de risco modificável nesses grupos, resultando em uma maior probabilidade de desenvolvimento de demência em uma idade mais precoce. No Brasil, por exemplo, temos um risco maior para demências em comparação com os EUA e outros países desenvolvidos.
Educação e Atividade Cognitiva
A educação de longa duração é benéfica, devendo ser cognitiva, física e socialmente ativa na meia-idade (entre os 18 e 65 anos) e na terceira idade (acima dos 65 anos). Novas evidências mostram que a atividade cognitiva na meia-idade faz diferença mesmo em pessoas que receberam pouca educação.
Tratamento da Perda Auditiva
A evidência de que o tratamento da perda auditiva diminui o risco de demência é agora mais forte. O uso de aparelhos auditivos parece ser particularmente eficaz em pessoas com perda auditiva e fatores de risco adicionais para demência.
Outros Fatores de Risco
- Depressão e Tabagismo: O tratamento da depressão e a cessação do tabagismo podem reduzir o risco de demência.
- Poluição do Ar: A redução da poluição do ar está ligada à melhora da cognição e à redução do risco de demência.
- Traumatismo Craniano: O TCE é um fator de risco significativo para demência. A proteção contra traumatismo craniano, como o uso de equipamentos apropriados e a redução de colisões de alto impacto, é essencial.
Conclusão
Novas evidências sugerem que a redução do risco de demência aumenta o número de anos saudáveis de vida e diminui a duração dos problemas de saúde para as pessoas que desenvolvem demência. As abordagens de prevenção devem ter como objetivo diminuir os níveis de fatores de risco precocemente e mantê-los baixos ao longo da vida. Nunca é cedo ou tarde demais para reduzir o risco de demência. Intervenções em todos os fatores de risco abordados têm o potencial de redução de risco ao longo da vida, economizando custos e melhorando a qualidade de vida.
Com todo este conhecimento em mãos e conhecendo cada um dos fatores, posso montar um plano de ação personalizado e que faça sentido para ser seguido, mirando a plenitude cognitiva, especialmente nas fases mais avançadas da vida.
Referência: Livingston G et al. Dementia prevention intervention and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. Alzheimer’s Association International Conference (AAIC) 2024.